RIO E
BRASÍLIA — O movimento da direção nacional do PT de tratar como prioridade
absoluta a candidatura ao governo do senador Lindbergh Farias ampliou o clima
de animosidade entre o partido e o PMDB, que prepara retaliação. Os
peemedebistas decidiram tornar pública uma ameaça: caso o PT insista em lançar
um adversário à candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), o
diretório fluminense não apoiará a aliança à reeleição da presidente Dilma Rousseff
na convenção nacional do PMDB — na qual o Rio responde por 15% dos votos.
A gota
d'água foi justamente a declaração do presidente do PT, Rui Falcão, na sexta-feira, no Rio, defendendo a candidatura
de Lindbergh como prioritária. Especialmente porque, na véspera,
Falcão se reunira com Dilma e o ex-presidente Lula, o que indicava que era uma
decisão da cúpula do governo e do PT.
Na noite
de domingo, os 12 principais caciques do partido no estado — entre eles o
governador Sérgio Cabral, Pezão, o prefeito Eduardo Paes, o presidente estadual
da legenda, Jorge Picciani, o presidente da Assembleia Legislativa, Paulo Melo,
e o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha — reuniram-se na residência
oficial da Gávea Pequena para debater o futuro da relação. Na avaliação do
grupo, o apoio de Falcão a Lindbergh surpreendeu.
O
presidente do PT, Rui Falcão, e o governador Sérgio Cabral marcaram para amanhã
uma reunião no Rio, mas a situação é delicada.
— O PT
tem que decidir se quer o Planalto ou o estado. Não existe aliança só de um
lado. Não haverá palanque duplo no Rio — disse Eduardo Cunha.
O embate
mostra também o desgaste de Cabral depois da força dos protestos no Rio e da
repercussão do desaparecimento do pedreiro Amarildo. Cabral já não tem o
potencial eleitoral que o reelegeu com 66% dos votos. Soma-se a isso o fato de
partidos aliados, como o PSB e o PCdoB, estarem de saída da atual gestão. Da
aliança que elegeu Cabral, sobraram apenas PP, PDT, PTB e partidos nanicos.
Para
pressionar o PT e o ex-presidente Lula, Cabral foi duro ao descartar palanque
duplo em favor de Dilma.
— Cabral
ficou extremamente aborrecido com as declarações de Falcão e reafirmou que não
aceita palanque duplo. Se o PT insistir, ele não descarta apoiar outro
candidato à Presidência ou mesmo nenhum — afirmou um dos principais aliados de
Cabral.
Em maio,
em jantar com governadores do PMDB, Cabral citou sua íntima relação com o
senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB contra Dilma, para tentar minar a
pré-candidatura de Lindbergh. O governador lembrou que seu filho Marco Antônio
é parente do tucano.
O
secretário-geral do PMDB do Rio, Carlos Alberto Muniz, afirmou que o partido
quer manter a aliança com o PT, mas não vai tolerar provocações dos petistas:
— O que
está claro e é importante o PT saber é que temos a hegemonia política no
estado, a esmagadora maioria das prefeituras, o governo do estado e nossa
bancada federal. Não prevalecerá uma aventura (de lançar Lindbergh) que destrua
o que está dando certo.
Cabral
decidiu na reunião que tentará retardar a saída do PT do seu governo, para que
a candidatura do partido de Dilma, como oposição a seu governo, soe
oportunista.
— O PT
tem duas secretarias importantíssimas no governo. Não podemos admitir que o PT
faça com a gente o que o governador Eduardo Campos fez com a Dilma: usufrua do
governo e largue em cima da hora — afirmou Paulo Melo.
Lindbergh
Farias aposta na data de 30 de novembro para o desembarque do governo
fluminense. Mas, Rui Falcão diz que não há data acertada.
Para
petistas, Cabral se esforça para adiar a saída do PT na expectativa de que a
candidatura de Eduardo Campos cresça e o apoio do PMDB do Rio se torne
imprescindível para Dilma. Aí a direção nacional do PT rifaria a candidatura de
Lindbergh. É para não correr riscos que o senador quer apressar a saída do
governo Cabral. Em conversas ontem, ele minimizou a ameaça do PMDB do Rio de
não apoiar Dilma Rousseff:
— E o
Aécio vai querer?
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